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terça-feira, 28 de setembro de 2010
Carta ao Pr. Silas Malafaia: Sobre o Desserviço que Ele tem Prestado para a Conscientização Política dos Evangélicos
Prezado Pastor Silas Malafaia,
A primeira vez que lhe escrevi diretamente, o fiz no intuito de criticar a aliança que fizeste com o que chamo (não forma não tão irônica) de “Teologia de Satanás”, a teologia do “Todos estes reinos serão teus, se prostrado me adorares” (Mateus 4:9). O Sr. respondeu à minha carta, apresentando alguns motivos pelos quais crê na “unção financeira dos últimos tempos” e, apesar de não concordar com patavinas das justificativas apresentadas pelo Sr., e apesar do Sr. ter dito que minha mente está “envenenada”, apreciei e considerei louvável sua postura de apresentar uma resposta a este crítico que novamente te escreve.
Não escrevo desta vez para comentar sobre alguma peripécia teológica de sua parte. Não escrevo para comentar sobre o seu “clubinho dos salvos”, ou sobre a macumba do trízimo para prosperidade dos desempregados, ou sobre as recentes investidas de Morris Cerullo e Mike Murdock em solo tupiniquim para arrancar dinheiro dos iludidos fieis para enriquecer o seu ministério. Não! Escrevo desta vez para lhe advertir sobre o desserviço que o Sr. tem prestado no que se refere à conscientização política de nossa nação.
Estamos em período eleitoral e, como é normal durante este período, acusações, críticas e novos posicionamentos de todas as espécies surgem quase que diariamente. Todo um quadro político pode mudar em poucos dias, ou até mesmo horas. O Sr. deve concordar comigo quanto a isto, afinal na última sexta feira (24/9) o Sr. declarou voto à candidata do PV à presidência Marina Silva e ontem (27/9) mudou sua posição, declarando apoio à candidatura do tucano José Serra.
O Sr. deixou claro o motivo pelo qual mudou de ideia quanto ao voto para presidente, e este motivo está relacionado com meu objetivo em escrever-lhe. Não se trata, antes que você pense ser este o caso, de o Sr. ter mudado de ideia quanto ao seu voto (o Sr. tem liberdade de votar em quem o Sr. quiser, mesmo que isto implique em mudança de opinião), e também não se trata de o Sr. ter negado voto a uma “irmã” (o fato de alguém ser cristão não diz nada sobre a capacidade desta pessoa de trabalhar a favor povo). Não! Trata-se (e é isto que eu chamo de desserviço) de tratar (e incentivar os seus ouvintes a pensar de igual modo) a questão do aborto e do casamento homossexual como se estas fossem as únicas questões pertinentes sobre as quais um cristão deve pensar ao decidir seu voto.
O povo brasileiro é, por si mesmo, um povo apolitizado. O povo brasileiro não tem consciência política. Não seria exagero nenhum afirmar que o povo brasileiro é politicamente analfabeto. O povo não é de todo culpado deste quadro, afinal, basicamente o único veículo de “conscientização” pública das últimas décadas tem sido a TV, que, acho que o Sr. concorda comigo aqui, traz muito pouco além de manipulação à massa que lhe consome. O povo não é ensinado a pensar sobre política, e quanto mais o povo for assim, melhor para aqueles que tentam se perdurar no poder. (Felipe Neto fala muito sobre isto aqui.)
Agora, que desânimo que dá quando vemos pastores tão influentes quanto o Sr. contribuindo para que o marasmo político de grande parcela da população se perdure! Que vergonha! O que o Sr. e Pr. Paschoal Piragine Jr (e outros vários) têm feito recentemente ao dizer (de forma clara ou subliminar) que o cristão deve considerar primordial a questão do aborto e do casamento homossexual ao definir seu voto, é uma tremenda ajuda ao retrocesso.
De onde veio a ideia a absurda que a questão do aborto é mais importante, por exemplo, que segurança pública, desemprego, saúde, educação e meio ambiente, apenas para citar alguns poucos exemplos. Será que um cristão deve ignorar todas estas questões políticas importantes e basear seu voto levando em conta apenas qual é a posição de certo candidato em relação ao aborto, ou ao casamento homossexual, como o Sr. (juntamente com sua trupe) tem ensinado?
O Sr. declarava até sexta feira passada voto a Marina Silva, porque ela é “irmã”. (Isto por si só já é digno de reprovação, já que isto incentivaria seus ouvintes a votar no primeiro evangélico que vissem pela frente, independente de suas propostas.) Três dias depois o Sr. declara a mudança de voto, porque Marina “dissimulou” em relação à questão do aborto e não foi incisiva como o Sr. achava que ela deveria ser.
O que o Sr. disse com sua posição – e o que seus companheiros têm dito – é que simplesmente não importa se um candidato é bom ou ruim ou se suas propostas para saúde, educação e segurança pública são boas ou ruins: se o tal candidato apóia a legalização do aborto, ele não merece nosso voto; se ele é contra (e eu fico me perguntando quando é que José Serra se manifestou de forma contrária ao aborto) então ele merece os votos dos evangélicos!
Por que o Sr. não ensina seus seguidos a como pensar politicamente, ao invés de pensá-los a o que devem pensar? Por que os mesmos pastores que levantam a bandeira da “ética” contra o aborto são tão indiferentes a outras questões importantes (talvez muito mais importantes) como saúde, segurança pública, educação, econômia e meio ambiente?
Faço a você também as mesmas perguntas que José Barbosa Júnior, do site Crer e Pensar fez em relação à famosa pregação do Pr. Paschoal Piragine Jr, na qual ele critica a “iniquidade institucionalizada” que o PT está instaurando no Brasil. “Por que não dizer também do fisiologismo descarado do DEM, ou isso não seria uma forma de ‘iniquidade estabelecida’? Por que não falar do capitalismo selvagem e neoliberal do PSDB, que achincalha o pobre e favorece os mais ricos, pra que se tornem ainda mais ricos? Não seria isso ‘iniquidade institucionalizada’?”
Quer um conselho, Silas? Se suas palavras não vão contribuir para que o povo evangélico brasileiro aumente sua capacidade de pensar politicamente, cale a boca! Sinceramente, não atrapalhe aquilo que já está péssimo. Continue pregando sobre a sua Teologia de Satanás e tomando dinheiro de fieis iludidos e fique longe da arena pública de debates, que o Sr. ajuda mais (atrapalha menos) o Reino.
Sinceramente,
Eliel Vieira
28/9/2010
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Autor: Eliel Vieira
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