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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Memorando



No final das contas, ele tinha razão. Mas - por Deus! - como ele não queria ter razão!

Cada dia se revela como um campo de batalha. Um coliseu. Onde os fortes subjugam os fracos. Onde uma escolha separa a vida da morte. Onde os louros são destinados para o mais determinado, e não para o mais forte.

Porque a força física não vale para coisa alguma, quando a ferida é feita na alma. E suturar a alma demanda vontade, lucidez. Para se costurar o âmago do ser, é necessário se humilhar, engolir o orgulho e as pretensões a seco, subjugar o ódio, a raiva, as vontades... É preciso esquecer que existe o prejuízo e lembrar que há um horizonte de eventos à frente. Lembrar que ainda existe um desbravador, um bandeirante dentro de si.

Ele quis não ter razão. Ele quis voltar atrás uma vez. Duas vezes. Tantas vezes. Mas ele percebeu que havia uma escolha melhor. Que ele podia ser honesto consigo mesmo. Ele podia ainda ser o mesmo, como podia ser alguém melhor. Alguém são. Alguém livre.

A cura vem aos poucos. Viver ajuda a melhorar. Um dia de cada vez. Um leão sendo derrotado. Um pecado sendo lavado. Um fantasma sendo exorcizado. Uma alma livre. E ele caminha. Olhos no horizonte. O passado existe, mas não importa mais.

Ele visa o futuro dos sonhos. Essa é a sua razão agora.

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